domingo, 23 de maio de 2010

Marrocos 200 anos depois: um convite especial

Por: Elias Salgado

Até onde me alcança a memória, acho que as primeiras palavras que ouvi de meu querido pai, David bar Eliezer Elmaleh z”l, foi algo parecido com “meu ribi Shimon Bar o Raio!??? Ele as usava como expressão de alegria e também de reação à uma situação de gravidade ou mesmo quando estava muito zangado... E eu na minha pouca compreensão dos primeiros anos, não sabia muito bem o que elas significavam, mas logo pude registrar, ao menos, que se tratava de algo importante para ele e que por conseqüência deveria ser para mim e todos de nossa casa; apesar de que a palavra “raio” denotava, também, algo grave, mas ao mesmo tempo forte e que me instigava a curiosidade... E eu não estava nem um pouco equivocado, apenas ainda não sabia disso...

Alguns anos depois, a dita expressão ganhou pronuncia correta, mas ainda não real significado. Este veio ao longo do tempo, com a convivência familiar e comunitária, para em seguida, após melhores explicações e maior estudo, adquirir para mim, seu significado e significância devida: “meu Ribi Shimon Bar Iochai”.

O “meu” Ribi Shimon - atentem para a grafia ribi, pois ela é um “código genético cultural” específico - que é um só para a história e para a multi milenar tradição judaica, em particular para a de “los nuestros”, os descendentes daqueles pioneiros judeus oriundos dos “mellahs” marroquinos que aportaram ao norte do Equador, em plena Selva Amazônica, em princípios do século XIX.

Mesmo após anos de estudo e de conhecer sua iluminada trajetória de grande cabalista e de constar em nossa tradição, entre outras façanhas, como o autor da grande obra cabalística, o Livro do Zohar (Livro do Esplendor), não deixou de ser uma figura familiar, quase paroquial, ao contrário, ele continua sendo a expressão (no sentido amplo da palavra) de uma vivência, de uma ancestralidade a me acompanhar desde meus primeiros dias de vida, e que certamente me acompanhará quando eu partir para outras esferas.

Ribi Shimon Bar Iochai é apenas a grande ponta de um gigantesco iceberg - a cultura judaico-marroquina -, submerso em parte, no grande mar da civilização que o povo judeu construiu e segue construindo e preservando. Outros grandes cabalistas e grandes sábios do Talmud e da Torá estão registrados por nossa história, e em nosso caso específico, o dos judeus do Marrocos, muitos deles não são figuras distantes, em boa parte são nossos parentes e ancestrais...Quem de nós não possui em sua árvore genealógica um ascendente que foi um grande rabino, um grande douto das nossas leis?

Posso aqui falar do caso do ramo Elmaleh, apenas a título de exemplo e por ser este, o que melhor conheço, mas sei que minha afirmação supra é historicamente comprovada: as origens dos Elmaleh (cujo nome é oriundo do árabe medieval falado na península ibérica, remontam a Andaluzia, e já no século XI, são encontrados documentos que apontam para existência de sobrenomes com tal grafia ou similar a ela. Pois bem, tal genealogia, apenas uma dentre outras várias, possui em sua árvore, inúmeros nomes de rabinos, chegando até mesmo, de forma quase direta, ao grande sábio Yossef Caro, autor do Shulchan Aruch, uma das mais importantes obras da halachá (lei religiosa), certamente o mais completo e popular resumo do Talmud.

Por favor, não me entendam mal, não há nestas palavras qualquer tom de arrogância, ao contrário, o caso de minha família é apenas um exemplo como inúmeros outros, dentre “los nuestros”. Eu apenas o citei com o objetivo de chamar sua atenção para o que realmente é importante: que após 200 anos da presença dos judeus do Marrocos na Amazônia, somados a outros quatro séculos de presença no Marrocos, acrescidos de mais uns dezessete séculos de vida judaica na Península Ibérica, não estamos tão distantes (distintos?) daquele nosso passado/princípio. Claro que passamos por várias transformações, adaptações e etc, porém, na essência ainda somos os mesmos, como na música de Belchior – “Como nossos pais”...

Esta viagem às origens, tal qual a fiz agora, pode ser feita de diversas maneiras – cada um tem a sua. Porém, dar-nos a oportunidade ímpar de poder viajar neste túnel do tempo de nossas raízes, através de uma convidativa excursão ao Marrocos, acompanhados de nossos familiares e entes queridos e de nossos chaverim de comunidade, talvez seja algo que não devemos desperdiçar, concordam?

EXCURSÃO AO MARROCOS COMEMORATIVA DOS 200 ANOS DA PRESENÇA JUDAICO-MARROQUINA NA AMAZÔNIA
Clique na imagem e conheça todos os detalhes desta imperdível viagem.
 

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