Pesquisando sobre os primórdios do Sionismo no
Brasil encontramos que as primeiras atividades sionistas
naquele país, tiveram início quase que simultaneamente , ao início das atividades do movimento na Europa.
No Brasil a iniciativa sionista, nasceu no coração da selva
amazônica, no seio da pequena e isolada comunidade sefaradita-marroqui, e já na virada do século XIX para o XX, travava contato com o diretivo do movimento sionista na Europa. Eram iniciativas isoladas, de um pequeno grupo de pioneiros ativistas, ainda sem nenhum cunho organizativo, fato que só viria a ocorrer na segunda década do século XX.
Nasceu na Amazônia,pois ali existia, desde as primeiras
decadas do sec. XIX, a única comunidade judaica organizada do país,na cidade de Belém do Pará, e em outros pequenos núcleos isolados, do hiterland amazônico.
Nos grandes centros do sudeste brasileiro( Rio de Janeiro
e São Paulo), não existia naquele então, uma vida judaica organizada comunitariamente. Fato que se daria, somente mais tarde, a partir da segunda década do século XX, com o incremento da imigração européia.
Avraham Milgram, levanta a questão do porque desta iniciativa: se por razões humanísticas de solidariedade e identificação, já que nenhuma causa de outro gênero(tal como reação ao anti-semitismo, como no caso do ocorrido com os judeus da Europa),poderia ser apontada,dado que os judeu sefaraditas do Marrocos, na Amazônia, gozavam de uma vida próspera e tranquila.
Ele chama a atenção para a necessidade de um estudo mais profundo que assinale causas de tal questão histórica, apesar de citar o incidente ocorrido em 1901, nas cidades de Cametá e Baião, quando várias casas comerciais de judeus foram saqueadas por membros da população local.
Milgram afirma, que tal incidente não deixou marcas na história destes sefaraditas.
Porém, neste ponto, creio ter encontrado um fato posterior, que acredito, tenha correlação com tal incidente e a reação da comunidade judaica local ao mesmo. Trata-se da alteração feita nos estatutos da antiga"Sociedade de
Exercício de Caridade"(Hebrá Guimilut Hassadim), da comunidade de Belém, de 1902, que na oportunidade incluiu nos estatutos, um novo objetivo da Hebra:"defender os irmãos, de qualquer perseguição injusta que por acaso pudessem sofrer em todo o Estado".
Tais atividades sionistas se configuram por correspondências mantidas com o diretivo do Movimento Sionista de então, e parcas contribuições financeiras a causa ( ao K.K.L.), objetivando a compra de terras na Palestina para assentamento dos chalutzim(pioneiros) e
criação de novos núcleos judaicos.
Apartir de 1908, ocorre uma mudanca de eixo no ativismo sionista brasileiro para o Sudeste do país , quando então inicia atividades o paraense de origem sefaradita marroquin, David José Perez, nascido em Breves no Pará,mas que passa a viver então, no Rio de Janeiro), fundador do primeiro jornal judeu em lingua portuguesa, no Brasil " A Columna" (Ha Hamud), cujo um dos principais objetivos era a luta em prol da causa sionista.
Nos dois anos em que circulou, "A Columna" foi o centro de toda a atividade judaica e sionista da então nascente,comunidade de judeus do Sudeste e Sul
do Brasil.
Tal mudança de eixo,parece coincidir com o declínio da iniciativa sionista no seio da comunidade sefaradita - marroquí da Amazônia, ocorrida em função de desinteresse aparente pela causa, e dificuldades financeiras.
Apartir de então , o Sionismo brasileiro, será dirigido pelas
comunidades judaicas do Sudeste brasileiro,que tomavam
forma organizacional mais consistente, com a chegada
de levas imigratórias oriundas da Europa Oriental**.
*Trabalho apresentado durante pós graduação em Educação e História, na Universidade Hebraica de Jerusalém, 1997-98
** Apesar do presente trabalho haver sido escrito na década de 90 do século XX, fica evidente que seu conteúdo e valor histórico não perderam vigência. Porém gostaria de assinalar o declínio generalizado do chamado “ativismo sionista organizado”, como o entendíamos à época, por diversas razões que fogem a presente abordagem, exigindo um trabalho mais profundo sobre o fenômeno.
O que gostaríamos de registrar é o fato de que mesmo numericamente menores, as comunidades de Belém e Manaus, na atualidade, são as que,em termos relativos, mais jovens enviam para diversos programas em Israel e que lá já existe uma comunidade de cerca de 300 olim, o que nos leva a pensar que um novo processo está em fase de conformação, e que o mesmo merece uma análise de suas causas,por parte dos estudiosos da temática.
Referencias bibliograficas:
Chaim Avni , "The origens of Zionism in Latin America " , in " The jewish presence in L.America - Elkin and Gilbert -1987
Avraham Milgram, " Precursors of Zionism in Brasil before the turn of the 20th. century", in Frank Cass Journals – 1995
Maria Liberman: "Judeus na Amazonia brasileira -sec.XIX e XX).
Egon e Frida Wolff in, "Judeus nos primordios do Brasil Republica"
Jose Maria Abecassis in, "Genealogia hebraica"
Jornal ''A Columna" ("Haamud") , numero 1 de 14 de janeiro de 1916
Arquivo David J. Perez, The Central Archives for the History of the Jewish People, Jerusalem , pag.124, doc.4
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