domingo, 4 de abril de 2010

As muitas histórias do major Eliezer Levy

Fonte: extraído da obra Judeus no Brasil – Estudos e Notas de Nachman Falbel

Uma das pessoas que mais se destacaram no judaísmo paraense como homem voltado às questões sociais e comunitárias relativas à imigração israelita no norte do país foi o major Eliezer Levy.

Nascido em 29 de novembro de 1877, Eliezer Levy descendia de uma tradicional família sefaradita, que por parte da mãe incluia a dinastia rabínica dos Dabela (D'avila) entre eles o Rabi Eliezer Dabela, cognominado a Luz do Ocidente (Ner ha-Maarabí). Viveram em Casablanca e em Rabat, Marrocos, antes de emigrarem para Belém do Pará, em 1870.

Eliezer Levy fez seus primeiros estudos em Gurupá, onde seu pai Moisés Isaac Levy, atuava no comércio. Em 21 de março de 1900, casou-se em Cametá, com Esther Levy Benoliel, filha de David e Belizia Benoliel, de família ilustre do Marrocos. Ainda muito jovem, estabeleceu-se no comércio participando como titular da firma E. Levy & Cia. – Comissões e Consignações e, a partir de 1910, fez parte da diretoria da Maju Ruber Company, presidida pelo Comodoro Benedit. Gerenciou ainda a firma italiana de navegação C. B. Merlin.

Eliezer Levy ingressou na Guarda Nacional e chegou ao posto de coronel, ainda que fosse sempre conhecido como major Levy. Advogado, foi ativo na política local, sendo prefeito três vezes: do município de Macapá, Afuá (no Pará) e novamente de Macapá.

Entre 1918 e 1926, Eliezer Levy atuou como advogado no escritório de Francisco Jucá Filho, Procurador Geral da República e Álvaro Adolfo de Silveira, deputado estadual e chefe do Partido Conservador. Ainda que ele mesmo pertencesse ao Partido Republicano Federal desde a sua fundação. Apesar das divergências políticas, sua amizade com os colegas de trabalho teria futuramente importância decisiva na posição brasileira durante a votação na ONU para a criação do Estado de Israel. Foi ainda membro da Maçonaria, onde alcançou o grau 33 e foi elevado a Grande Benemérito da sua Ordem.

Segundo a sua filha, a escritora Sultuna Levy Rosenblatt, o jornal sionista que Levy fundou em 1918, o "Kol Israel" (A Voz de Israel), assim como os serviços de dagtilografia das instituições da comunidade judaica, eram realizados sempre naquele movimentado escritório de advocacia, colocando, portanto, os problemas do nacionalismo judaico e do movimento sionista na pauta das discussões daqueles advogados.



Oswaldo Aranha

Todos os partidos políticos foram extintos em 1937, mas pouco tempo depois foi fundado o Partido Social Democrático, chefiado no Pará por Magalhães Barata. Eliezer Levy ingressou no novo partido e passou a ter uma posição de destaque, tornando-se grande amigo daquele líder, conseguindo ao mesmo tempo trazer seu velho companheiro, o advogado Álvaro Adolfo da Silveira, ao mesmo partido. Este último seria eleito mais tarde senador da República pelo PSD. Álvaro Adolfo foi designado para fazer parte da comitiva que acompanharia Oswaldo Aranha à ONU, como seu assessor político.

Sultana Rosenblatt relata que na hora da votação para o reconhecimento do Estado de Israel, Álvaro Adolfo sentiu que conhecia minuciosamente o assunto, sem se lembrar bem como e por que. Após uma retrospectiva, passou por sua lembrança o escritório da rua 13 de Maio, onde Eliezer Levy trabalhava e onde se discutiam assuntos sobre a criação de Israel. Álvaro Adolfo era coordenador da votação e conseguiu descobrir três países que votariam contra: pediu a Oswaldo Arannha que suspendesse a sessão, e após vários dias de trabalho na conquista dos adversários, conseguiu dobrá-los. Continuada a votação, o resultado foi: "mais dois votos favoráveis e um em branco", o que levaria a criar a maioria necessária para a formação de um Estado Judeu.

A narrativa dele é confirmada em um aparte na Câmara dos Deputados do Rio de Janeiro, em 15 de maio de 1973, feito pelo Dr. João Menezes, sobrinho e filho de criação de Álvaro Adolfo da Silveira e seu sucessor no escritório de advocacia e no Partido Social Democrático. João Menezes em seu aparte no discurso do deputado Rubem Medina, disse que "o Pará tem ligação com a criação do Estado de Israel. Revelo o fato neste instante, ao plenário da Câmara, para que faça parte do esplêndido discurso de V. Exa. O Sr. Álvaro Adolfo da Silveira, ex-senador pelo Estado do Pará, foi o homem que, em companhia de Oswaldo Aranha, e designado por ele, coordenou a votação da criação do Estado de Israel. Há um fato interessante em tudo isso. Quando voltava das Nações Unidas, Oswaldo Aranha, em trânsito em Belém do Pará, recebeu homenagem das mais carinhosas da colônia israelita, que lhe ofereceu uma corbeille de flores em reconhecimento do trabalho que havia feito. No discurso de agradecimento declarou aos israelitas do Pará que cometiam um grave erro: 'aquela homenagem deveria ser tributada ao senador Álvaro Adolfo da Silveira, o homem que havia coordenado tudo na ONU para a criação do Estado de Israel'. Este é o aparte que desejava dar, com as minhas homenagens àquele grande povo".



"Salve Palestina Livre"

Em 1°. de dezembro de 1918 celebrava-se em Belém do Pará o grande acontecimento, e entre outras solenidades organizava-se na capital paraense um cortejo de carros alegóricos, levava o nome "Palestina" que o "Kol Israel" descrevia estar decorado com "uma bela ornamentação de festões de flores, levando ao centro, em suntuosa cadeira, uma senhorita ricamente trajada como uma hebréia da antiga Jerusalém. Sobre sua cabeça repousava uma coroa de louros e de seus braços pendiam algemas partidas, simbolizando a Palestina livre. À destra empunhava uma riquíssima bandeira de seda, com as cores azul-celeste e b ranco, e ao centro o escudo de David. Atrás do carro levando o estandarte, grande número de sócios do Comitê "Ahavat Sion" e da "Associação Beneficente israelita". Na histórica foto que assinala o evento, encontram-se o major Eliezer Levy, Abraham Ribinik, veterano ativista comunitário, e Haila (Alita), sua filha mais velha. A faixa que se encontra na frente do carro trazia a frase "Salve Palestina Livre".

O "Kol Israel" se definia como "jornal independente de propaganda sionista", "órgão do Comitê Ahavat Sion" (Amor a Sião) e foi outra das iniciativas de Eliezer Levy. Seu primeiro número saiu em 8 de dezembro de 1918, extamente uma semana depois do cortejo de carros alegóricos.

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